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Sexta-feira 13: a origem curiosa de como um grupo anti-superstições consagrou a data

  • LuizP7
  • 13 de dez. de 2024
  • 4 min de leitura

Dois símbolos de mau presságio – a sexta-feira e o número 13 – se uniram ao longo da história. Ironicamente, um grupo criado para desafiar as superstições foi o responsável por eternizar a fama da data.

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Documentos do Clube dos Treze faziam graça de superstições. — Foto: Reprodução via BBC


Sexta-feira 13: o dia mais temido do calendário, marcado pela crença de que tudo pode dar errado. Mas de onde veio a ideia de que esta data, que ocorre de uma a três vezes ao ano, está ligada ao azar e ao infortúnio? Tanto a sexta-feira quanto o número 13 já carregavam, isoladamente, a fama de mau presságio, segundo Steve Roud, autor do guia "Superstições da Grã-Bretanha e Irlanda", da editora Penguin.

Como a sexta-feira foi o dia da crucificação de Jesus Cristo, ela passou a ser vista como um dia de penitência e abstinência, explica Roud. Com o tempo, essa crença religiosa se transformou em uma aversão mais ampla a iniciar qualquer coisa importante nesse dia. Por volta de 1690, surgiu uma lenda urbana afirmando que reunir 13 pessoas em um grupo ou ao redor de uma mesa trazia azar, segundo explica Steve Roud.

As teorias para a associação do número 13 ao infortúnio incluem a quantidade de participantes na Última Ceia e a crença de que um clã de bruxas era composto por 13 integrantes. Ao longo da história, a sexta-feira e o número 13, que já eram vistos com receio de forma isolada, acabaram se combinando. Curiosamente, a consagração da data veio graças a um grupo que pretendia ridicularizar superstições.

Em 1907, o corretor de ações Thomas Lawson publicou o livro "Sexta-feira 13", que acabou sendo uma das principais inspirações para a mitologia em torno da data. Na obra, um corretor de Wall Street usa a manipulação do mercado financeiro para arruinar seus inimigos, uma trama sombria que, décadas depois, também influenciaria a icônica franquia de filmes de terror lançada nos anos 1980.


Sexta-Feira 13: entenda a história e a origem da superstição da data Para isso, ele se aproveita do nervosismo natural que a data já causava no mercado financeiro. "Cada homem na bolsa de valores está atento a essa data. Sexta-feira, 13, derrubaria até o pregão mais forte", diz um dos personagens do livro.

Isso mostra que, em 1907, a superstição em torno da sexta-feira 13 já estava bem estabelecida socialmente. Mas a história nem sempre foi assim. Cerca de 25 anos antes, a data ainda não carregava o mesmo peso.

O marco inicial veio com o "Clube dos Treze", um grupo de homens que decidiu desafiar as superstições de forma provocativa. Eles se reuniram pela primeira vez em 13 de setembro de 1881 (uma quarta-feira) e oficializaram o clube em 13 de janeiro de 1882.

As reuniões do grupo aconteciam sempre no dia 13 de cada mês. Os 13 integrantes se sentavam à mesa, quebravam espelhos, derrubavam saleiros de propósito e passavam por debaixo de escadas antes de entrar no salão de jantar. Os relatórios anuais do clube registravam quantos membros haviam morrido e, de forma meticulosa, quantas dessas mortes ocorreram dentro de um ano após participarem de um dos jantares. 'Grande coração'

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Por ser o dia da crucificação, a sexta-feira passou a ser vista como um dia de penitência e abstinência — Foto: Getty Images O "Clube dos Treze" foi fundado pelo capitão William Fowler em seu restaurante, o Knickerbocker Cottage, localizado na Sexta Avenida de Manhattan, Nova York.

Descrito como um "homem de bom coração, simples e caridoso", Fowler era o mestre de cerimônias das reuniões e fazia questão de entrar no salão de banquetes à frente do grupo, sempre de forma vistosa e destemida, segundo Daniel Wolff, o "chefe de regras" do clube.


Na primeira reunião, o 13º convidado chegou atrasado, o que quase levou Fowler a ordenar que um dos garçons ocupasse o lugar vago.

De acordo com o jornal "The New York Times", o garçom estava sendo empurrado escada acima quando o convidado finalmente chegou, garantindo o simbolismo completo do grupo.

Inicialmente, o objetivo do clube era desafiar a superstição de que, se 13 pessoas jantassem juntas, uma delas morreria em breve.

Mas o grupo não parou por aí. Em abril de 1882, eles aprovaram uma resolução que criticava o fato de a sexta-feira ser considerada um "dia de azar" há séculos, sem fundamento lógico.

Para reforçar a campanha, o clube enviou cartas ao presidente dos EUA, a governadores e a juízes, pedindo que as execuções por enforcamento deixassem de ser realizadas às sextas-feiras e passassem a ocorrer em outros dias da semana.


Curiosamente, as atividades do "Clube dos Treze" não faziam referência direta à superstição da sexta-feira 13. O elo entre o dia e o número só surgiu mais tarde, em algum momento entre a fundação do clube, em 1882, e a publicação do livro de Thomas Lawson, "Sexta-feira 13", em 1907. Seria o "Clube dos Treze" o responsável por popularizar essa superstição?


Orgulho O clube aproveitava todas as oportunidades para unir as duas superstições e ridicularizá-las. De acordo com uma reportagem do jornal Los Angeles Herald, em 1895: "Nos últimos 13 anos, sempre que a sexta-feira caía no dia 13, a peculiar organização realizava reuniões especiais para celebrar a ocasião".


O clube se orgulhava de ter colocado essas superstições sob os holofotes. Sua popularidade cresceu consideravelmente, e o grupo inicial de 13 membros passou a contar com centenas de participantes na virada do século. Além disso, clubes semelhantes começaram a surgir em outras cidades do país.


Em 1894, foi fundado o Clube dos Treze de Londres. Em uma carta de 1883 aos membros de Nova York, o escriba londrino Charles Sotheran elogiou a determinação do clube para combater "duas dessas superstições vulgares: a crença de que o número 13 traria azar e que a sexta-feira seria um dia de azar".


"Vocês criaram um sentimento popular a favor das duas", afirmou a carta, uma frase que pode ser interpretada como um sinal de que as superstições, agora conectadas, passaram a ser aceitas pelo público.


A doutrina do Clube dos Treze era clara: "superstições deveriam ser combatidas e eliminadas".

No entanto, parece que, em vez de combater a superstição, o grupo teve o grande azar de acabar criando uma das crenças mais duradouras e amplamente conhecidas do mundo ocidental.

 
 
 

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